Home » Informação » Como um metal raro que só a China produz ameaça forças militares dos EUA e aliados

Controle chinês sobre samário, essencial para ímãs de equipamentos militares, fragiliza cadeia de suprimentos do Ocidente

China, que detém o controle quase exclusivo da produção mundial de samário, um metal de terras-raras essencial para ímãs resistentes ao calor, impôs restrições severas à sua exportação, o que tem gerado preocupação às forças militares dos Estados Unidos e aliados.

Isso porque esses ímãs, capazes de suportar temperaturas altas o suficiente para derreter chumbo sem perder propriedades magnéticas, são cruciais para equipamentos militares, como mísseis, caças e bombas inteligentes, e motores elétricos de alta velocidade em espaços reduzidos, como os cones de nariz de mísseis.

De acordo com o jornal The New York Times, a interrupção das exportações de samário, iniciada em 4 de abril, expôs uma vulnerabilidade crítica na cadeia de suprimentos militar dos EUA e da Europa.

A China, que controla a maior parte do fornecimento global de terras-raras e seus ímãs, justificou a medida como necessária para “salvaguardar a segurança nacional” e “cumprir obrigações internacionais, como a não proliferação”.

Desde então, o país asiático passou a exigir licenças especiais para exportações de sete tipos de metais de terras-raras, incluindo o samário, que possui poucas aplicações civis, como o uso de seu radioisótopo Samário-153 no tratamento de metástases ósseas de câncer.

Dependência estratégica

Autoridades norte-americanas e chinesas se reuniram em Londres nos últimos dias para negociar um acordo que resultou em uma trégua tarifária entre os dois países.

A retomada do fluxo de terras-raras é uma prioridade para os EUA, mas Michael Hart, presidente da Câmara Americana de Comércio na China, disse ao Times que é improvável que o país asiático elimine completamente o sistema de licenciamento.

A dependência do samário chinês é particularmente crítica para empresas como a Lockheed Martin, que utiliza cerca de 23 quilos de ímãs de samário em cada caça F-35, um dos mais modernos da frota norte-americana.

Por mais de uma década, os Estados Unidos não conseguiram desenvolver uma alternativa ao fornecimento chinês de samário, apesar de possuírem depósitos do mineral, como na Mountain Pass Rare Earth Mine, na Califórnia, segundo o Times.

De acordo com o jornal, o governo de Joe Biden chegou a planejar a construção de duas unidades de produção de samário, mas os projetos não avançaram por razões comerciais.

No Brasil, a monazita, principal fonte de samário no país, também não é explorada em larga escala devido aos altos custos de extração e separação, segundo a USP (Universidade de São Paulo) e a IAEA (Agência Internacional de Energia Atômica).

Impactos em conflitos globais

A interrupção no fornecimento de samário ocorre em um momento delicado. Os estoques de armamentos avançados dos EUA e da Europa foram severamente reduzidos devido aos envios para a Ucrânia, após a invasão russa, e para Israel, durante o conflito na Faixa de Gaza.

Além disso, os esforços do governo de Donald Trump para armar Taiwanque Pequim reivindica como seu próprio território há anos, intensificaram as tensões.

A China impôs sanções a empresas militares norte-americanas por seu papel no fornecimento de armas à ilha, proibindo companhias e indivíduos chineses de manterem laços financeiros com esses contratantes.

As regulamentações do Departamento de Defesa dos EUA exigem que a fundição ou moldagem de ímãs militares seja feita dentro do país ou em nações aliadas, mas permitem que os ingredientes sejam importados de qualquer origem.

Agora, as novas regras chinesas determinam que as licenças de exportação de samário sejam concedidas com base no usuário final do mineral – o que muitas vezes inclui os próprios contratantes militares.

 

Direção de Jornalismo: Wilon Cardoso

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